A Tenda da Verdade


"Não podia acreditar nos meus olhos quando vi o nome da tenda: TENDA DA VERDADE.
Então ali vendiam verdade!
A correctíssima empregada perguntou-me que espécie de verdade desejava eu comprar: verdade parcial ou verdade plena.
Respondi que, naturalmente, verdade plena.
Não queria fraudes, nem apologias, nem racionalizações. O que desejava era a minha verdade nua, clara e absoluta.
A empregada conduziu-me a outra secção do estabelecimento, onde se vendia a verdade plena.
O vendedor que trabalhava naquela secção olhou-me compassivamente e apontou a etiqueta com o preço.
"O preço é muito elevado, senhor!"- disse-me.
"Quanto é?" - perguntei eu, decidido a adquirir a verdade plena a qualquer preço.
"Se você a levar..." - disse - "o preço consiste em não ter mais descanso durante o resto da sua vida!"
Saí da tenda entristecido. Tinha pensado que podia adquirir a verdade plena a baixo preço. Ainda não estou pronto para a Verdade! De vez em quando, anseio pela paz e pelo descanso. Ainda necessito de me enganar um pouco a mim mesmo com as minhas justificações e as minhas racionalizações...
Continuo ainda à procura do refúgio das minhas crenças incontestáveis."

(A. de Mello, O canto do pássaro, Sal Terrae, 1982)

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