A Semente que não queria crescer


"Há bastante tempo passou um semeador por esta nossa terra e foi deixando cair as suas sementes. Com carinho, falava-lhes e dizia algo a cada uma delas:
- Cresce bem, faz-te uma boa árvore, para que poisem em ti as aves do céu!
- Dá bom trigo, para que o moleiro possa fazer farinha e ser depois um belo pão familiar!
- Dá-nos bom azeite, para adubar os nossos alimentos!
E aquele semeador saia todos os dias a ver crescer o campo, e via satisfeito como cada planta deitava os seus talos e folhas. Contudo, entre todas aquelas plantas, notava a falta de uma semente que ainda não tinha saído para a luz do dia. Todos os dias esperava vê-la aparecer com grande ansiedade.
Lá dentro da terra, ouvia-se o rumor da semente:
- Sei que são horas de crescer, de sair da terra e deitar raízes com firmeza! Mas se saio e não chove o bastante, morro de sede! E se fizer muito frio, ficarei gelada! Se, pelo contrário, fizer demasiado sol, ficarei queimada! Pode acontecer que alguém me pise e fique esmagada...
Eu gostaria de ver o azul do céu, ser uma árvore forte e dormir à luz das estrelas, mas, se sair e as coisas correrem mal, o que será de mim?
Aquela semente não se atrevia a crescer, até que um dia, por entre as suas dúvidas e medos, se recordou do que lhe tinha dito o semeador quando a colocou na terra:
"Cresce porque necessitamos de ti! Ao teu lado passará muita gente e hão-de sentar-se aqui para descansar. As aves hão-de fazer ninhos nos teus ramos e..."
Quando se lembrou de tudo isto, compreendeu que alguém a esperava e não podia permanecer mais tempo ali, debaixo do chão.
Pôs-se a crescer e quando saiu à luz do dia, encontrou o sorriso do semeador. Desejou então, com toda a coragem, crescer ainda mais. Vieram as neves e os ventos fortes do inverno, mas lutava com todas as suas forças, agarrando-se com perseverança e determinação às suas raízes a fim de sobressair por cima das dificuldades.
E sempre, todas as tardes, encontrava o olhar orgulhoso do semeador que se fixava nela e sorria.
Assim cresceu um ano e outro, vendo como as pessoas se aproximavam pelo caminho e ao chegar ao seu lado, paravam, olhavam o horizonte e seguiam o seu caminho.
E sempre, todas as tardes, o olhar sorridente do semeador alçava a vista do chão para o céu para ver os seus últimos ramos... esperando algo mais dela.
Cada vez era mais firme, robusta e direita… quando chegava o inverno, desprendia de si ramos para o semeador fazer lenha e se aquecer dia após dia. Quando ele a visitava, dava-lhe o melhor de si mesma e pelo seu tronco corriam lágrimas de resina... de alegria, de satisfação!"

(Autor: Manuel Sánchez Monge; Fonte: Parábolas como setas)

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